sábado, 10 de dezembro de 2011

Dia #09...Les Pyrénées


Cinco meses para relatar 9 dias de viagem? E ainda faltam dois dias de relato até à tugolândia!! Assim, definitivamente, não dá. É este o ritmo que o país leva, mergulhado na inércia e na falta de produtividade. Para contrariar esta má imagem que vendemos lá para fora – juntamente com o Fado – propomo-nos, com responsabilidade e determinação, a fechar este maravilhoso relato antes do final do Ano! São metas duras as que se avizinham, pois relatar os dois dias faltantes em menos de 20 dias, não está ao alcance de qualquer um; ainda para mais sabendo que, os dois dias que faltam foram quase de “tiro”, por eutoestrada desde o interior dos Pirinéus até Lisboa. E, atravessar a Espanha por autovias e/ou autpistas tem muito que se lhe diga! Mas não nos desconcentremos no que aí vem.
O gráfico estatístico relativo às visitas aqui ao nosso blog represente bem este dia de viagem; Sempre a trepar ao início; sempre a descer para o fim.


Propúnhamo-nos a uma tirada algo ambiciosa caso a orografia do terreno se apresentasse vantajosa. Talvez percorrer cerca de 350 km e pernoitar no coração dos Pirinéus, bem junto da fronteira franco-espanhola. Logo, concluímos que o terreno não se apresentava vantajoso às características da Laranja e que para fazer tão poucos quilómetros iríamos derreter todo o dia!
Partida de Lamalou-Les-Bains (..e não de Los Angeles)

Tentámos ganhar algum tempo nas planícies do Haute-Garronne. Aqui a paisagem é imensa e a linha do horizonte parece-nos inacessível. Saídos de Lamalou-les-Bains, apontámos a Laranja em direcção a Castres, região de Toulouse. Os famosos campos de girassóis a perder de vista são a imagem de marca desta região. “Outra” das imagens de marca da região – sazonal, claro- não esteve presente: o calor. Felizmente! Pois nesta região as altas temperaturas são asfixiantes. Tempo ganho nas magníficas planícies da região sul de Toulouse, seguimos sempre pelas estradas secundárias, em excelente estado de conservação, bem como totalmente desertas. Aliás, se me permitem mais uma vez os parênteses, constatámos que a França é um país muito bem conservado mas tivemos alguma dificuldade em descobrir os habitantes. Tal e qual como Portugal…

Região Castres-Revel

Sorèze (Revel)











Região de Revel



hora da "bica". 

No meio dos campos de girassol, conseguíamos vislumbrar ao longe a imensa cordilheira dos Pirinéus. E é mesmo imensa!! A “estonteante” velocidade a que a Laranja nos transportava dava-nos tempo para percebemos, à medida que as montanhas cresciam que, talvez não tivesse sido a melhor opção de caminho sujeitar um veículo de 38 anos com mais de 200kg de carga a tal feito…Mas não havia volta a dar! O “muro” natural que separa a Europa da África estava ali mesmo á nossa frente! Palmadinha reconfortante no dorso do cavalo (leia-se volante) lá começávamos a “trepa”. “A”, julgava eu na minha defensiva ignorância…pois a verdade é que estávamos perante “as”…! O cenário tornou-se ainda mais tenebroso quando repentinamente escureceu, o nevoeiro apoderou-se de toda a montanha e uma chuva miudinha insistia em fazer os limpa-viros da Laranja trabalharem mais uma vez! O silêncio da montanha, potenciado pelo nevoeiro, completava o ramalhete. Não foram raras as subidas aos diversos “Col’s” em 1º velocidade, pontualmente brindada com uma 2ª velocidade. Não sabíamos se deveríamos fazer umas paragens para descaso da máquina ou se deveríamos despachar a cordilheira o mais rapidamente possível, até por a chegada da noite naquele dia parecia que tinha sido antecipada. O bom senso do Palma lá ia dizendo “epá, pára aí um pouquito…”. Parávamos, abríamos o capot para verificar eventuais danos no interior do vaso de expansão…mas nada! Tudo cool; tudo calmo! Parecia que a máquina fazia aquele percurso diariamente. Lá seguíamos nós, sempre a subir e perdendo já qualquer esperança que pudessem existir descidas. Por fim e para animar, a nossa sede por estradas secundárias levou-nos a perdermo-nos em plenos Pirinéus! O velho Michelin em paper-mode deixou de ter a escala e o detalhe necessário ao percurso escolhido e os GPS dos telemóveis apenas indicavam um ponto a circular sobre um “nada sobre uma superfície verde” nos mapas disponibilizados.

"ataque" aos Pirinéus, região de Saint Girons







Por fim, a derradeira descida....




Resultado: estrada sem saída nas entranhas da montanha, junto a umas cabanas para estadas de Inverno…Nem cães havia!! Meia-volta ao cavalo, voltar ao “ponto de partida”, referenciado no Michelin e procurar abrigo para pernoitar. Com isto teremos “queimado” 2 horas de viagem. A pressa para os descansos e o improviso levaram-nos até Bagnéres-de-Luchon, perto do famoso Col du Tourmalet, a menos de 7 km da fronteira com Espanha. Perto de tudo e ao mesmo tempo longe de tudo. Nesta pequena cidade “de Inverno”, o acolhimento foi maravilhoso. Mais um bom hotel parado no tempo dava-nos guarida. Ao jantar fomos servidos por uma simpática e muito bonita jovem Cabo-Verdiana e, em fim de viagem, a língua portuguesa dominou! 

Chegada nocturna a Bagnéres-de-Luchon



Descanso de parte da "crew"...



O esforço sobrenatural a que a Laranja foi submetida neste dia, só teve paralelo em grandiosidade, ao brinde paisagístico com que os nossos sentidos foram brindados. Mas…o cheiro do fim desta trip já andava no ar…
...Une bière s'il vous plait!!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia #08 - Gorges du Tarn...



Neste ritmo de escrita, arriscamo-nos a terminar o relato de “11 simples dias num chuvoso Julho francês”, por altura do quinquagésimo segundo aniversário da nossa querida 4L. Será que teremos sol para o 52º aniversário?
Este 8º dia de tour ou trip terá sido, porventura, um dos mais entusiasmantes do percurso. Provavelmente, a Laranja não diria o mesmo, dada a altimetria acumulada ao longo do dia. Estava a nossa Laranja longe, muito longe de saber o que lhe estaria reservado para o dia seguinte. Lá iremos (daqui a uns dias…). Espero que antes do tal 52º aniversário…
Para este dia estava reservado fazer grande parte do Val du Tarn, em pleno Parc National de Cévennes. Esta é uma área, do vastíssimo território francês, com baixíssima ocupação populacional e muito procurada por turistas para algumas práticas de desportos ditos radicais. BTT (VTT en francais…e também em Esposende), caminhada, canoagem (muita canoagem), parapente, são alguns dos desportos que por ali proliferam nesta altura doa ano. Como para nós, nenhum desses desportos se apresentava suficiente arriscado, optamos por calcorrear a região ao volante da Laranja.





f. 1-6: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie)

Foi aqui que a nossa veia cinematográfica apelou a todos os nossos sentidos: - por favor, filmem isto! - Disse a veia aos sentidos. Parte do trailer (*) da nossa viagem começou a ser filmado aqui, em plena D998, à saída de La Canourgue. Espera-se que o filme fique montado na totalidade antes do sexagésimo aniversário da nossa querida 4L.



f. 7 e 8: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie);
f. 9 e 10: D998 (La Canourgue-Sainte Enimie...com Sainte Enimie em vista)

Mal refeitos, em termos cardíacos falando, de tanta emoção visual que esta região nos oferece, eis que surge no horizonte próximo a fabulosa aldeia de Sainte Enimie! 4L atirada para a beira da estrada e toca a derreter o cartão da máquina fotográfica como se não houvesse amanhã, ou logo à tarde, ou mesmo almoço! O tempo urgia…mas que se lixe! Vamos visitar em força a aldeia! Enquanto percorria de forma solitária as ruelas do burgo – o Palma tinha seguido por outros “trilhos”- pensava, de forma mais que recorrente nesta viagem, “é aqui que quero morar!”. E queria mesmo!
Entretanto, o tempo passava e os quilómetros não. Dentro das 80 horas que se seguiriam deveríamos atingir Lisboa. A planificação prévia de ir tomar uma cervejinha a Monte-Carlo ficava cada vez mais “fora-de-mão”. Erro de casting óbvio que tomou com base de cálculo as potentíssimas 4GTL, de 34 CV e mais de 1100cm3…







f. 11 a 18: Sainte Enimie por dentro e com a concorrência do costume....

Sainte Enimie para trás e todo o vale do Tarn para a frente. Paisagem de dimensão indescritível, por desfiladeiros que, literalmente, não cabem na objectiva da Olympus. De pequenos, passamos a minúsculos. Valha-nos a cor do carro, caso contrário, ficaríamos perdidos para sempre naquela imensidão de paisagem.
Almoço, à beira da estrada e debaixo de um rochedo de altura infinita na região de Pougnadoires. Aqui, no mais limpo céu de verão, o sol não entra. Nunca entrou! Valeu-nos o minhoto Gazela, para fazer brilhar o desfiladeiro, bem fresquinho pela nossa geleira de fabrico…francês!






f. 19 a 25: Pougnadoires, e vinho verde!

De um lado do desfiladeiro do Tarn, o imenso maciço rochoso; do outro, pequenos aglomerados de casas campestres cujo único acesso eram pequenas embarcações para atravessamento do rio. Muitas destas habitações estão completamente abandonadas enquanto outras, permanecem com vida graças ao aluguer sazonal por parte de turistas que prescindem do óbvio.




f. 26 a 30: Pougnadoires - Le Rozier

Mas se estávamos à cota do Tarn, havia que transpor a cordilheira montanhosa, qualquer que fosse o nosso destino. Adivinhava-se, à partida, grandes dificuldades para a Laranja (**) enquanto o relógio não parava de nos lembrar que o tempo fugia. Um café em Les Vignes para retemperar forças e lá atacaríamos a impiedosa subida. Paragem para cliques fotográficos em Le Rozier e toca a continuar a subida infinita. Mas tudo o que sobe, calculamos que mais tarde ou mais cedo descerá. E assim foi e com prémio: este foi, nas regiões altas de Le Vigan, a contemplação do mar Mediterrâneo a Sul! Talvez estivéssemos a cerca de 50 ou 60 quilómetros da costa (na direcção de Montpellier) mas a vista era completamente deslumbrante e, ainda por cima, abençoada pelo Astro-Rei. Mais uma vez, a paisagem não cabia na Olympus e, mesmo no espaço virtual do nosso imaginário era difícil encontrar alojamento para tanto e tão bom!! O que vale é que o pára-brisas da Laranja nos limita os alcances sensoriais!


f. 27 a 30: A Laranja, a fenda e o Mediterrâneo...

E em sintonia com o Astro-Rei, também nós íamos “caindo” para a planície do Sul de França. Um tiro arbitrário no Michelin ditaria a zona de repouso. 





f. 31 a 36: D25, direcção Lodéve

E assim foi em grande estilo; o tiro saiu em Lamalou-les-Bains, uma pequena vila termal para os que fogem das confusões balneares de Béziers. E nós, como já somos gente de alguma idade, lá fomos até às termas. Mas sem direito a massagens!


f. 37 e 38: noite animadíssima de Lamalou-les.Bains...gente por todos os lados, bares e cafés "á pinha"....

(*) no passado fim-de-semana, durante um passeio de bicicleta entre Lisboa e Santarém, organizado pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e que terá contado com mais de 600 ciclistas, fui abordado em plena prova por um companheiro. Este, cumprimentou-me e de seguida colocou-me a seguinte questão: “Thenay, diz-lhe alguma coisa?” A minha surpresa foi gigante! E ele acrescentou “Eu estava a reconhecê-lo, pois vi o filme!”

(**) Desilusão total para quem “adivinhou” grandes dificuldades para a Laranja, pois não houve quaisquer dificuldades! Prova superada com total êxito.